sexta-feira, 11 de março de 2016

As gafes do vinho: vinho docinho é ruim

Sempre que digo que gosto e estudo vinho uma das reações mais comuns é: "Ahh, eu gosto também, mas não entendo nada. Só tomo vinho docinho." Pior são os pseudo-enófilos ou "eno-chatos" que saem com essa: "Vinho doce?! Ahh, isso é coisa de pobre!". Penso com meus botões, quanta ignorância e arrogância.
Durante a fermentação as leveduras transformam o açúcar da uva em álcool, CO2 e calor. Mas sempre resta algum açúcar no vinho final. Isso é chamado tecnicamente de "açúcar residual". Dependendo da sua concentração o vinho será classificado em:

  • extrasseco
  • seco
  • meio seco
  • meio doce
  • doce
O conteúdo de açúcar pode varia de 1 grama a 200 gramas por litro.
O preconceito vem do fato que historicamente a maioria dos vinhos baratos sempre tinha muito açúcar residual pois ele "mascara" qualquer imperfeição.
Com a evolução da indústria, a melhora global da qualidade e a sofisticação do mercado consumidor criou-se a pecha do "vinho docinho".
A lista de doces que todo ser humano deveria provar antes de morrer é grande: brancos alemães (Trockenbeerenauslese), Sauternes, vinhos do Porto, Tokay, vinhos da Madeira e por aí vai.
O Chateau D´Yquem é um vinho tão raro e tão difícil de ser feito que as poucas garrafas produzidas são vendidas antes mesmo de sair de Sauternes, em Bordeaux. Em alguns anos ele nem é produzido, caso não ocorram todas as condições necessárias (mas isso é história para outro post). Eu tive o privilégio de tomar um da safra 1975 no ano de 2010. Trinta e cinco anos na garrafa e ao ser aberto conservava um frescor, uma doçura e aromas que nunca esquecerei. Segue a prova. Uma garrafa dessas a gente tem de guardar: